segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Especismo


Especismo é o ponto de vista de que uma espécie, no caso a humana, tem todo o direito de explorar, escravizar e matar as demais espécies de animais por considerá-las inferiores.[1] O termo foi criado e é usado principalmente por defensores dos direitos animais para se referir à discriminação que envolve atribuir a animais sencientes diferentes valores e direitos baseados na sua espécie, nomeadamente quanto ao direito de propriedade ou posse. - Wikipédia

É totalmente arbitrário qualquer um de nós, determinar qual espécie pode ser consumida. Desde bactérias aos grandes mamíferos, todos os seres tem vida. Há pessoas que juram poder sentir as plantas, e há religiões filosóficas que consideram toda forma de vida sagrada. Há alguns séculos, com uma ciência obtusa e preconceituosa, aliada a interesses econômicos/políticos/imperialistas e com a omissão de certas religiões, seres humanos de outras etnias foram considerados inferiores e descartáveis. Quem pode garantir, que não sejamos considerados bárbaros sanguinolentos pelos seres humanos do futuro, pela forma como tratamos os animais e as próprias plantas?

Precisamos no entanto lembrar, que não somos seres alienígenas. Somos frutos da natureza, da evolução biológica, e portanto nossos prédios e sucatas eletrônicas fazem tanto parte da natureza, quanto as casas construídas por marimbondos. Mas temos consciência, e isso deveria nos trazer mais responsabilidade sobre a forma como utilizamos os recursos da natureza, visto que somos nós também a natureza. Assim como nosso corpo precisa de descanso, de alimentação e uso sustentável, assim também é com a natureza que também somos nós.

A questão não é o que podemos comer, mas como devemos comer. Não devemos julgar o que outro come, mas avaliar como comemos. Nós também seremos alimento de vermes, seremos adubo para a terra, seremos e somos parte do ciclo da vida. Mas espiritualmente, temos uma responsabilidade a mais.

Os animais são como máquinas biológicas que cumprem a vontade de Deus. Até mesmo uma pedra ao ser largada, cumpre a vontade de Deus quando é atraída pela gravidade. Não fazem nem o bem, e nem o mal, fazem o que são programados para fazer. O gato que brinca com sua vítima não é cruel, só está cumprindo sua programação. A cachorra que arrisca sua vida para salvar seus filhotes, só está cumprindo sua programação, por mais fofa que parece a cena. A aranha que embosca sua vítima, parece uma vilã, quando só está buscando seu alimento, de acordo com sua programação. Mas o homem, este tem o poder de desobedecer à Deus, de fazer o bem, ou o mal, a si mesmo, e aos que o cercam.

Cada vida que consome, animal ou vegetal, vai fazer parte de você, vai ser sacrificada para que você ande, respire, pense, aja. Aquele animal ou vegetal, sem o poder para fazer o bem ou mal, vai ser utilizado para te mover, e você poderá levar sua vida, seu sacrifício, a ser utilizado tanto para o bem, quanto para o mal. Aquele boi pode ter sido sacrificado para mover o corpo de alguém que salva vidas em um hospital, ou que milita pelos direitos dos animais, ou para mover o corpo de um criminoso que desvia dinheiro público, ou mesmo de um garoto sedentário que desperdiça não só sua vida, mas de tudo que consome, de frente para uma TV ou da tela de um computador. 

A Bíblia afirma: “Sede férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo animal que rasteja sobre a terra!” 29E acrescentou Deus: “Eis que vos dou todas as plantas que nascem por toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes: esse será o vosso alimento!" Gênesis 1:28

Aparentemente, o propósito de Deus é de que o homem fosse uma espécie de vegetariano (ou vegano?), assim como era o propósito de Deus, de que o homem não morresse, não adoecesse, não escravizasse uns aos outros, que o homem não dominasse a mulher, ou que esta sentisse as dores do parto. Mas foi esse o caminho que o homem escolheu trilhar, um caminho que escolhemos todos os dias, ao optar por comer um McDonald´s ao invés de um prato com alimentos saudáveis, ao optarmos por ficarmos o dia todo de frente ao computador, ao invés de praticar exercícios físicos e nos dedicarmos a um esporte, ao procurarmos sexo fácil ao invés de um relacionamento estável e saudável, ao fazermos pesquisas rápidas na internet ao invés de nos aprofundarmos nos assuntos necessários, ao preferirmos o elevador a subir as escadas, e sabendo Deus da nossa imperfeição necessária para a nossa evolução e crescimento individual, ele nos "permite" (não que ele aprove, como não aprova a morte, as doenças etc.) comer carne, desde que algumas recomendações (já que o mal é inevitável, visto que o ser humano precisa trilhar seu próprio caminho de acordo com seu livre-arbítrio, opta-se por um mal menor).

Aqui estão alguns exemplos de legislação judaica sobre o tratamento ético aos animais:

É proibido causar sofrimento aos animais – tzaar ba'alei chaim. (Talmud – Baba Metzia 32b, baseado em Shemot 23:5).

A pessoa é obrigada a aliviar o sofrimento de um animal (i.e., torná-lo mais leve), mesmo se o animal pertencer ao seu inimigo. (Shemot 23:5)

Se um animal depende de você para o sustento, é proibido comer antes de alimentar o animal. (Talmud Berachot 40a, baseado em Devarim 11:15)

Somos obrigados a conceder aos nossos animais um dia de descanso no Shabat. (Shemot 20:10)

É proibido usar duas espécies diferentes para puxar o mesmo arado, pois é injusto para com o animal mais fraco. (Devarim 22:10)

É proibido cortar e comer o membro de um animal vivo. (Bereshit 9:4; esta é uma das leis Noachidas que se aplicam tanto a judeus como a não-judeus).

Shechitá (abate ritual) deve ser feito com o mínimo de sofrimento para o animal. A lâmina deve ser meticulosamente examinada para assegurar a forma de morte mais indolor possível. (Chinuch 451; Pri Megadim – Introdução às Leis de Shechitá).

Caçar animais por esporte é visto com séria desaprovação pelos nossos Sábios (Talmud - Avodá Zara 18b; Noda BeYehuda 2-YD 10).

Além das recomendações bíblicas para não desperdiçarmos alimentos, dividirmos o alimento com os menos favorecidos, não maltratarmos os animais, prover uma vida digna aos animais, sacrificarmos suas vidas sem dor e com imenso respeito e pesar, devemos também nos atentar para a responsabilidade que recai sobre nós, quando uma vida é sacrificada para que possamos continuar nos movendo. 

Que seja para o bem, toda vida consumida para que a nossa continue. Honremos toda vida que nos deu sustento. Quanto mais a vida daquele, que se sacrificou para que você viva para sempre nos braços do Pai.


 

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