segunda-feira, 8 de julho de 2013

O DIA DE HOJE

Mais ainda do que o dia em que nasci, mais ainda que o dia mais feliz que eu possa me lembrar, hoje é o dia do meu júbilo. Porque hoje, é o dia em que estou vivo, e que posso construir o meu amanhã. O ontem já morreu, mas o hoje vive. Eu estou vivo, hoje estou vivo. O ontem está morto, e o amanhã pertence a Deus. O dia de hoje é tudo que eu tenho. Hoje é toda a minha vida, tudo que eu sou, eu só sou hoje. 

O Senhor Javé ouviu as minhas preces, e como poderia ter sido diferente? A mesma Palavra que mantém a existência e a ordem do Universo, é a Palavra que diz: eu sou seu Pai. E que pai não atende seu filho, se o pedido do filho é excelente? Por acaso Javé é deus de barro que não tem ouvidos? Ou deus de bronze que não pode me ver? Não, mas é o Deus que vive de eternidade a eternidade, que coloca em dúvida a minha própria existência, mas jamais a fidelidade da sua Palavra, esta que mantém a ordem de todas as coisas. Ora, se estou vivo para pedir, essa é a prova e testemunha cabal de que Deus há de meu pedido cumprir.

Antes de sua Palavra não se cumprir, cairiam todas as estrelas do céu, e antes da sua Palavra não se cumprir, o Sol se tornaria em trevas e o próprio céu desabaria como água. O meu hoje é resultado e prova do cumprimento da sua Palavra, e toda a Criação é testemunha viva da sua Palavra. Se a sua Palavra é que me mantém, quem poderá encerrar os meus dias? Deveras, o Sol poderá se por todos os dias, e os homens podem fazer registros das estações, de todos os dias e de todos os anos, mas o meu hoje jamais se findará. 

Glorificado seja seu nome para todo o sempre Senhor. Glória ao Deus Todo-Poderoso, e ao seu Ungido, Jesus Cristo, meu Senhor.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

O DIA DO DESCANSO DO SENHOR


E o escravo disse: para onde vai?
E o outro escravo respondeu: vou fugir, vou ser livre.
E o escravo disse: não pode fazer isso. Vai acabar sendo morto. Nosso lugar agora é aqui.
E começou um diálogo entre os dois escravos:
- Você nasceu com esses olhos?
- Sim nasci. Eles servem para enxergar, para ver as maravilhas do mundo. Mas só tenho visto sofrimento.
- Você nasceu com essa boca?
- Sim nasci. Ela serve para me alimentar, e para saborear os alimentos. Mas só tenho sentido gosto do fel.
- Você nasceu com essas orelhas?
Sim nasci. Elas servem para ouvir o canto dos pássaros, as risadas dos meus filhos, a aproximação do perigo. Mas só tenho ouvido choros.
- Você nasceu para morrer?
- Claro que sim, todos nós vamos morrer um dia, todos nós nascemos para morrer.
- Pois é meu amigo. Eu nasci para ser livre, e nasci para morrer. Mas não nasci com essas correntes.

O cão em toda a sua vida enterra os ossos, come, bebe, se reproduz, brinca e morre. Ele não tem ambição do que não conhece, e não pode lamentar o que não fez. Saciado ele desce para o leito da morte, e se lhe dessem mais vinte anos, nenhum acréscimo teria. O mesmo sucede a todos os animais, que foram criados para morrer, mas isso não sucede ao homem.

Seus olhos podem contemplar maravilhosas obras da natureza, e nunca se saciarão de apreciar o sorriso da sua amada. Seu nariz pode sentir o cheiro do azedo, e te salvar de beber um veneno, e nunca se saciará de sentir o perfume das rosas. Sua língua saboreia o alimento, e em seus cento e vinte anos de vida, ela jamais provará todos os sabores de todas as delícias. Se vivesse cento e cinqüenta anos, não poderia aprender a tocar todos os instrumentos da Terra. Não cantaria todas as canções de amor para sua esposa. Nem se vivesse duzentos anos, teria tempo para aprender todas as línguas do mundo. Se vivesse trezentos anos, ainda não poderia conhecer toda a ciência do corpo humano. E mesmo se vivesse mil anos, não poderia conhecer toda a ciência do Universo, e seus bilhões de estrelas e mistérios. Se o vigor da sua juventude não lhe fugisse, dançaria todas as noites com as damas do baile, e jamais se saciaria de beijar sua namorada. Visitaria os lugares frios para ver a neve, e não se cansaria de nadas nos rios e praias do mundo. E onde estaria a ansiedade, a pressa, a depressão, a rotina e a monotonia? Ora, não sabe que são filhas da morte, e da consciência da morte, e não da vida, e muito menos da consciência da Vida Eterna?

A morte vem e mantém o equilíbrio entre os animais, que não têm consciência para manter o próprio equilíbrio. Igualmente, aguça a ambição dos homens, traz à humanidade o medo do amanhã, e os faz ajuntar para hoje mais do que precisa o seu corpo, mesmo que para isso seja tirado do seu próximo. Pois, com o medo da morte, como saberá se conseguirá alimento amanhã? Assim, homem domina sobre o homem, e sobre todos domina a morte.

Sem Deus, a morte é necessária, e vem como um feitor, e sob o pulso do seu chicote caminha a humanidade. Ela mantém o equilíbrio e a ordem, estimulando o homem a lutar pela vida, a evoluir para viver, a criar e inventar para superar seus inimigos. A boa vida é escassa no Reino da Morte, e a disputa por ela é intensa, e é essa a máquina que gira o mundo dos homens e dos animais.

O feitor vem e chicoteia o escravo para produzir trabalho. O tempo é curto, mas a produção tem que ser farta, pois a morte torna incerto o dia de amanhã, e quem garantirá a boa vida depois de amanhã? Junta o senhor tudo que pode, pois a morte vem sem avisar. O feitor torna curto o período de descanso do escravo, e cada alimento é uma iguaria para ele, pois até estrume a fome pode temperar. O curto período de descanso se torna prazer, e isso busca o escravo todos os dias. Porque o tempo é curto, e a morte vem sem avisar. O trabalho se torna monótono, cansativo, angustiante, porque o escravo vive para alcançar o tempo de descanso. Mas o tempo de descanso é sempre mais curto que o período de trabalho, e mesmo se o feitor lhe desse uma hora de trabalho por dez dias de descanso, ainda se angustiaria na hora de trabalho, pois vive para alcançar o tempo de descanso, pois a morte pode vir a qualquer momento. A morte também torna o descanso em monotonia, e quando em excesso, em rotina, porque se sente que está desperdiçando tempo, pois a morte chega sem avisar.

A morte define o tempo para brincar, e para começar a namorar, e o tempo de trabalhar, de virar homem, de constituir família e de se preparar para a sua chegada. Seu corpo envelhece, enquanto a mente continua ávida dos prazeres da juventude.

A mente jamais entenderá esses mistérios. Por que tantas maravilhas para meus olhos contemplarem, se seus dias são tão curtos? Por que tantas delícias para minha boca provar, se seus dias são tão curtos? Os animais foram poupados dessa agonia, e não sabem que estão vivos, e nem sabem que vão morrer. Mas ao homem foi imputado um castigo, o de ver a vida passar, de ver suas mãos envelhecerem no corpo da jovem, que é a vida. A ele foi dado o castigo de sentir seus braços perderem a força enquanto segura seus netinhos. Foi dada ao homem uma fome do que ele não pode ter. O homem vive como um pássaro na gaiola, como uma serpente que deseja voar, mas rasteja. É condenado a aceitar correntes que não nasceram em seus braços.

No Reino da Morte, os bem aventurados são os que sofrem e os que choram, pois para esses o leito do esquecimento trará a paz, e o fim do seu sofrimento. Mas para os felizes e fartos de boa vida, o leito do esquecimento trará angústia e saudade enquanto se aproxima.

Mas tanto o que sofre, quanto o farto de boa vida, estarão juntos no leito do esquecimento, e fartura e lágrimas serão como monte e vale nivelados. Os mortos prematuros, e os fartos de dias, serão como monte e vale nivelados. O rico e o pobre, serão como monte e vale nivelados. Os vivos é que dirão: esse morreu bem, esse teve uma boa vida. Mas esses logo estarão também deitados no leito do esquecimento, e então quem se lembrará deles?  

Se não há Deus, de que adianta uma vida longa, se não poderei me lembrar dela? Do que adianta meus filhos se lembrarem de mim, se logo estarão comigo no esquecimento? Quem se lembrará do justo, e quem punirá o injusto? Sem Deus, do que me adianta ajudar o necessitado, se estaremos juntos no esquecimento? Quem se lembrará de nós? E quem poderá dizer: ele foi um grande homem? Este que diz, não estará logo comigo no esquecimento? Sem Deus, do que me adianta sobreviver à doença, se logo me deitarei no esquecimento? Que proveito terei das minhas conquistas no leito do esquecimento? Do que me salvará minha sabedoria no leito do esquecimento? Se hoje, eu me deitar no leito da morte, meus filhos irão lamentar, mas porque me preocupar com seu choro, se logo estarão comigo no leito do esquecimento? Lá, não se lembrarão mais do seu choro e da sua dor. Sem Deus, do que me adianta sobreviver à doença? Meus filhos se alegrarão, mas em breve tornarão a chorar. E não estaremos todos juntos no leito do esquecimento? Sem Deus, do que adianta cada livro que o homem coloca na estante da vida? Pois a própria estante da vida se deitará no leito do esquecimento, quando o Universo se for, e quando o Sol consumir o conhecimento da humanidade.

Se não houvesse Deus, não me adiantaria continuar, não me adiantaria levantar amanhã. Pobre do homem que vive sem Deus. É como o escravo da lavoura, que trabalha para outro comer, que trabalha para outro morar, que trabalha para outro festejar. O homem que vive sem Deus festeja o descanso que o feitor lhe dá, e trabalha dia e noite para alcançar o descanso, que em momentos já passou, e ele torna novamente para a lavoura, ávido do descanso, que novamente passará como uma brisa, e ele tornará novamente para a lavoura, até o dia da morte.

Mas eu não nasci com correntes, e eu não nasci para morrer. Meus olhos foram feitos para ver as belezas da Criação, e minha boca para provar as delícias da Terra. Minha mente continua ávida dos prazeres da juventude, porque ela não sabe morrer, porque ela não foi feita para morrer, e porque ela não vai morrer. 

Deus vive em mim. Deus está dentro de mim. Não trabalho mais pelo dia de descanso, mas vivo todo dia, o dia do descanso do Senhor, todo dia é dia de descanso, e nunca mais me torno para a lavoura, pois essa é a Vida Eterna, o conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, que faz de todo dia um dia de descanso. Não há mais lavoura, não há mais trabalho, mas todo dia é sábado do Senhor.

O dia mais angustiante da minha vida é sábado chuvoso. E o dia mais feliz é sábado de verão. O dia fatigante é um sábado frio, e o dia de festa é um sábado ensolarado. Vem a chuva, e vem a tempestade, vem o Sol e vem as nuvens, vem o calor e vem o frio, caem as folhas, e nascem os frutos, nunca deixa de ser sábado, nunca vem o dia da lavoura, nunca vem o dia do trabalho, não há mais dores de parto e nem espinhos na terra, pois todo dia é sábado do Senhor.

Que o Espírito o ensine.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

NOS DIAS DA ANGÚSTIA: DESVIO NO DESERTO



Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos.

Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.

Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.
2 Timóteo 4:3-5
"Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, de acordo com os seus próprios desejos, acumularão para si instrutores para lhes fazerem cócegas nos ouvidos". (2 Tim. 4:3, 4).


Nos dias da minha angústia me vieram os “Representantes do Senhor”, me chamando com voz alta, músicas e frases de encorajamento, cartazes com palavras de força e poder contra os meus opressores, cultos de defesa para as acusações que pesavam sobre mim, refrigério para a dor na minha alma. Tinham a receita para a vitória e para a libertação, receberam do Senhor autorização para me guiar pelo caminho da liberdade, me tirar do deserto e me chamar para fora da caverna onde me refugiava. Suas palavras eram doces para a boca amarga, e pareciam saborosas para um estômago faminto.

Mas me veio então a sabedoria do Senhor.

Deve o injusto ser encorajado? Quem são os inimigos do injusto? Não é a própria justiça? Deve o pecador ganhar poder? Para que, senão somente para pecar mais? Pode o injusto ser tirado da sua cela sem pagar até o último centavo do que deve? Não se torna criminoso o que sai da sua cela antes de completarem os dias da sua pena? Se a Palavra do Senhor é que me acusa, quem poderá contra o meu acusador? Se a misericórdia e a bondade do Senhor é que me oprimem, me espremem retirando todo o mal pelos meus poros, quem poderá contra o meu opressor? Se o caminho do Senhor é pelo deserto, onde me levará o caminho entre os jardins mais formosos?

Se o Senhor me deu um remédio amargo, ele teria algum remédio doce para me dar? Que pai dá remédio amargo ao filho, tendo um remédio doce que tenha o mesmo efeito? A borboleta tem que se espremer para sair do casulo, e nesse esforço ela fortalece as suas asas. E o que acontece quando um homem tem pena e a ajuda a sair? É como a água que tem medo de largar o filhote nas alturas, impedindo-o de aprender a voar.
Pode alguém dizer que algo que Deus criou veio para o mal? Ou atribuir ao inimigo a criação de algo que foi criado por Deus? Quem pode tocar no meu coração, senão aquele para quem eu abro a porta? A disciplina do Senhor deve ser vivida, pois tudo que o Senhor criou tem uma função. A alegria para o estímulo, para a recompensa dos justos, a tristeza para a correção, o alívio como prêmio, a angústia como advertência e força para mudar. A depressão nos leva a reflexão, e acalma nossos ânimos para buscar soluções. A dor avisa à mente que algo está errado em nosso corpo, e a fome avisa que falta energia ao organismo.

A dor é minha, e eu vou sentir cada instante dela, e só o Senhor tem o direito de me tirar ela, porque ela é minha, e eu só a tenho porque Deus me deu vida para senti-la.- 12/07/2013.

Quem transforma o bem do Senhor em mal é o próprio homem. É o homem quem constrói residência próxima do vulcão, e que habita os lugares onde há terremoto. O vulcão que cria rochas é transformado pelo homem em força destruidora, e o terremoto que é resultado da criação da Terra é transformado pelo homem em destruidor de lares. E quem destrói as árvores que protegem o solo da erosão, e depois culpa a chuva pela derrubada das casas? E quem constrói a casa em areia mole no alto do morro, e culpa a terra por não ter suportado o peso da casa e da chuva?

Envolto em solidão o Senhor ministrou na minha alma, cânticos baixinhos no meu coração me arrancaram lágrimas, as palavras do Senhor vieram do vento, do choro das crianças, das lembranças dos que eu amo, das pregações no meio das ruas, das estrelas do céu, e do Templo do Senhor edificado no meu coração. Então, deixei o caminho dos jardins, e prossegui no meu deserto, rumo à caverna onde descansaria.

Longe de mim querer julgar os "Representantes de Deus", pois Deus é quem conhece o coração dos homens, pois a mim Ele já enviou o vento como representante, e crianças, viúvas e mendigos. Mas nesse momento, somente Deus pode me dar o que eu preciso, e Jesus é minha única garantia. Em outra hora os ouvirei irmãos.

O DIA DA ANGÚSTIA



Nos dias da minha angústia eu entreguei a Deus todos os meus sentimentos. Passei novamente por Peniel, e tive de confrontar novamente meus demônios. São como sombras dos meus próprios desejos, silenciosos e astutos, matam lentamente o espírito enquanto engordam a carne. As sombras crescem conforme os desejos são cultivados, e quem é que rega essa erva daninha que cresce na alma? Oh Senhor, eu mesmo é quem o faço, e ninguém além de mim é culpado. Nem como culpados considero meus inimigos, livres estão de toda culpa, a eles imputo o meu perdão, pois o mal que me mata é o que eu mesmo cultivo, pois fora do meu coração nada pode me atingir, enquanto minha vida estiver guardada no seu Monte, pois quem pode achar meu nome escondido no meio da sua Luz, esta que dissipa as trevas e cega meus inimigos?

Nada tenho a reclamar de ti Senhor, nem no pior dia da minha vida, onde ainda tenho vida para lutar, onde ainda tenho fôlego para me levantar. De tantas bênçãos me encheste desde o meu berço, e para onde olho só vejo as suas maravilhas. Os meus estão fartos, me cobrem de amor, seu vigor parece não tem fim, e os dias de suas vidas parecem alongados de mar a mar. Minha saúde não me abandona, e o pão na minha mesa nunca faltou ou tardou a chegar. Não tive pergunta que de ti não tivesse resposta, e nunca tive lágrimas que por ti não foram enxugadas. Nunca faltou nem mesmo para os necessitados que a mim vieram, a sua parte sempre esteve nos meus bolsos, e nunca se desviou das suas mãos. 

E porque a angústia me domina? Porque a sua Presença e suas Maravilhas é que geram a minha angústia? Porque estou em trevas, e sua Luz fere meus olhos. Suas obras são testemunhas contra mim, suas bênçãos me condenam sem direito a quaisquer recursos. Não posso levantar minha voz para clamar, o Senhor não merece meus murmúrios. Minhas lamentações são como blasfêmia. Sua misericórdia expõe minha vergonha, e sua bondade é como espelho que exibe a sujeira da minha face. Quem me dera fosse como Jó, que justo foi incomodado pelo mal, e tinha sua justiça e piedade como testemunhas. Injusto desde os pés ao último fio de cabelo eu sou, e a benignidade e misericórdia de Deus depõe contra mim.  

Minha palavra não vale uma moeda, meus inimigos ridicularizam minha pronunciação. Levei varadas de amigos e parentes, sem poder contestar, pois minhas palavras se tornaram para eles como palavras de crianças. Meus olhos só fitam o chão, e mesmo para esse eu fecho os olhos de tamanha vergonha. Minhas promessas são vazias, minha boca é mentirosa. Como posso falar de ti? Como posso pronunciar o seu Nome? Antes de envergonhar o meu Deus, fecho a minha boca para toda profecia, pois se esta passa pela minha língua ela me extingue, e me consome como papel lançado ao fogo. O seu Nome que sempre foi leve como brisa refrescante, se tornou impetuoso como tempestade, e grande demais para minha boca. Todos os seus títulos se tornaram pesados demais para a minha língua. Não posso dizer o Deus que sirvo, pois me tornaria herege por causa das minhas ações, a mim mesmo me julgaria e me condenaria, e com minhas próprias mãos me lançaria na prisão. Seria mais justo como ateu, e menos ímpio se me declarasse pagão.

Encurralado por amigos e inimigos, recorri a ti em minha defesa, sem destruir a minha boca com seu Nome, sem pesar na minha língua os seus títulos, pois minhas palavras só me serviam de condenação. Pronunciei que somente de ti viria meu livramento, mas tudo que tive fui um período de mais tribulações e angústias. A comida se tornou como hóspede mal vindo nas minhas entranhas, a água se tornou cheia de terra que cortava minha garganta. A sua Presença me acusava, e, no entanto somente o Senhor estava ao meu lado. 

Mas ainda assim a esperança brilha a cada Sol, e me cobre como mãe amorosa a cada anoitecer. Como pode não ter esperança o mendigo que dorme no chão da praça, e vê passar todos os dias seu amigo que agora é Rei? Talvez ele não se sinta digno de ser atendido, mas jamais deixará de lançar seu olhar ao Rei. Como não pode ele ter esperança, de que seu amigo o note, e tenha misericórdia da sua situação? Tomei coragem, e me coloquei como pedinte incômodo, batendo na porta do meu amigo que agora é Rei. Dia e noite eu bato e grito, e ninguém me expulsa da sua porta. Onde estão os guardas, onde estão os soldados? Na sua porta morrerei chamando, entregarei a ti meu último grito, meu último suspiro, à sua porta morrerei como pedinte incômodo. Minhas palavras findaram, coloquei um selo em minha boca. Nada mais tenho a dizer em minha defesa.    
  
E o Senhor me inspirou: minhas palavras são belas e honestas, e não se achou falsa piedade nelas, e palavras assim não passam despercebidas aos ouvidos do Senhor. Não sele a sua boca, não dê fim às suas palavras. A água é maior que o copo que a carrega, seja ele de ouro, seja ele de madeira. O copo não mata a sede, mas a água que ele carrega. O copo sem a água não mata a sede, mas a água não precisa do copo, e pode ser bebida nas mãos, ou diretamente na fonte, pela boca. Não se julga a água pelo copo, e não se julga a Palavra pela boca que a pronuncia. Pois a Palavra do Senhor é livre como a água e o vento, desvia dos obstáculos, evapora, chove novamente, passa da planta ao animal, da carne do animal ao homem, volta ao solo quando o homem deita na morte, é absorvida pelas plantas, e sai novamente ao ar pelas plantas, e chega onde deve chegar. Refresca o justo como brisa, entra leve pelas narinas das crianças, pesa nos soberbos como ar em um pulmão destruído, vem como tempestade e furacão no Dia da Justiça. Tem forma de gota ou a grandeza do mar, é doce para o inocente e salgada para o impiedoso. 

A Palavra do Senhor me aliviou, e minha esperança não me abandonou. Sei que os meus estão guardados Nele, e o escárnio dos meus inimigos me dão força. As acusações dos meus inimigos se tornaram testemunhas a meu favor, minha dor e minha angústia se tornaram meu refrigério. A tristeza agora me fortalece como alimento revigorante. Junto testemunhas nas repreensões dos que me amam, acumulo provas a meu favor na disciplina do Senhor. Pelas minhas feridas sairão todos que me contaminam, a falta de chuva secou a erva que crescia na minha alma. A Luz do Sol destruiu as sombras dos meus desejos, a falta de recursos me impediu de cultivá-los. 

Louvado seja o Senhor por todos os séculos que vieram, e que virão a ser. Glorificado seja seu Nome para todo o Sempre. Bendito o seu Ungido e Rei, que não deixou os soldados e guardas me retirarem da sua Porta, e nem esperou o meu último suspiro para vir em meu socorro. Que nunca ignorou o meu olhar, mas que deixou que todo o meu mal fosse expulso de mim pelo meu clamor e súplicas. Não tenho outra garantia se não a sua Palavra na boca do Senhor Jesus, e a minha fé. Sua sabedoria me fez ficar calado de temor e admiração, e me condenaria a um hospício eterno se eu dissesse que não há Deus. Amém.