sexta-feira, 14 de junho de 2013

NOS DIAS DA ANGÚSTIA: DESVIO NO DESERTO



Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos.

Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.

Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.
2 Timóteo 4:3-5
"Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, de acordo com os seus próprios desejos, acumularão para si instrutores para lhes fazerem cócegas nos ouvidos". (2 Tim. 4:3, 4).


Nos dias da minha angústia me vieram os “Representantes do Senhor”, me chamando com voz alta, músicas e frases de encorajamento, cartazes com palavras de força e poder contra os meus opressores, cultos de defesa para as acusações que pesavam sobre mim, refrigério para a dor na minha alma. Tinham a receita para a vitória e para a libertação, receberam do Senhor autorização para me guiar pelo caminho da liberdade, me tirar do deserto e me chamar para fora da caverna onde me refugiava. Suas palavras eram doces para a boca amarga, e pareciam saborosas para um estômago faminto.

Mas me veio então a sabedoria do Senhor.

Deve o injusto ser encorajado? Quem são os inimigos do injusto? Não é a própria justiça? Deve o pecador ganhar poder? Para que, senão somente para pecar mais? Pode o injusto ser tirado da sua cela sem pagar até o último centavo do que deve? Não se torna criminoso o que sai da sua cela antes de completarem os dias da sua pena? Se a Palavra do Senhor é que me acusa, quem poderá contra o meu acusador? Se a misericórdia e a bondade do Senhor é que me oprimem, me espremem retirando todo o mal pelos meus poros, quem poderá contra o meu opressor? Se o caminho do Senhor é pelo deserto, onde me levará o caminho entre os jardins mais formosos?

Se o Senhor me deu um remédio amargo, ele teria algum remédio doce para me dar? Que pai dá remédio amargo ao filho, tendo um remédio doce que tenha o mesmo efeito? A borboleta tem que se espremer para sair do casulo, e nesse esforço ela fortalece as suas asas. E o que acontece quando um homem tem pena e a ajuda a sair? É como a água que tem medo de largar o filhote nas alturas, impedindo-o de aprender a voar.
Pode alguém dizer que algo que Deus criou veio para o mal? Ou atribuir ao inimigo a criação de algo que foi criado por Deus? Quem pode tocar no meu coração, senão aquele para quem eu abro a porta? A disciplina do Senhor deve ser vivida, pois tudo que o Senhor criou tem uma função. A alegria para o estímulo, para a recompensa dos justos, a tristeza para a correção, o alívio como prêmio, a angústia como advertência e força para mudar. A depressão nos leva a reflexão, e acalma nossos ânimos para buscar soluções. A dor avisa à mente que algo está errado em nosso corpo, e a fome avisa que falta energia ao organismo.

A dor é minha, e eu vou sentir cada instante dela, e só o Senhor tem o direito de me tirar ela, porque ela é minha, e eu só a tenho porque Deus me deu vida para senti-la.- 12/07/2013.

Quem transforma o bem do Senhor em mal é o próprio homem. É o homem quem constrói residência próxima do vulcão, e que habita os lugares onde há terremoto. O vulcão que cria rochas é transformado pelo homem em força destruidora, e o terremoto que é resultado da criação da Terra é transformado pelo homem em destruidor de lares. E quem destrói as árvores que protegem o solo da erosão, e depois culpa a chuva pela derrubada das casas? E quem constrói a casa em areia mole no alto do morro, e culpa a terra por não ter suportado o peso da casa e da chuva?

Envolto em solidão o Senhor ministrou na minha alma, cânticos baixinhos no meu coração me arrancaram lágrimas, as palavras do Senhor vieram do vento, do choro das crianças, das lembranças dos que eu amo, das pregações no meio das ruas, das estrelas do céu, e do Templo do Senhor edificado no meu coração. Então, deixei o caminho dos jardins, e prossegui no meu deserto, rumo à caverna onde descansaria.

Longe de mim querer julgar os "Representantes de Deus", pois Deus é quem conhece o coração dos homens, pois a mim Ele já enviou o vento como representante, e crianças, viúvas e mendigos. Mas nesse momento, somente Deus pode me dar o que eu preciso, e Jesus é minha única garantia. Em outra hora os ouvirei irmãos.

O DIA DA ANGÚSTIA



Nos dias da minha angústia eu entreguei a Deus todos os meus sentimentos. Passei novamente por Peniel, e tive de confrontar novamente meus demônios. São como sombras dos meus próprios desejos, silenciosos e astutos, matam lentamente o espírito enquanto engordam a carne. As sombras crescem conforme os desejos são cultivados, e quem é que rega essa erva daninha que cresce na alma? Oh Senhor, eu mesmo é quem o faço, e ninguém além de mim é culpado. Nem como culpados considero meus inimigos, livres estão de toda culpa, a eles imputo o meu perdão, pois o mal que me mata é o que eu mesmo cultivo, pois fora do meu coração nada pode me atingir, enquanto minha vida estiver guardada no seu Monte, pois quem pode achar meu nome escondido no meio da sua Luz, esta que dissipa as trevas e cega meus inimigos?

Nada tenho a reclamar de ti Senhor, nem no pior dia da minha vida, onde ainda tenho vida para lutar, onde ainda tenho fôlego para me levantar. De tantas bênçãos me encheste desde o meu berço, e para onde olho só vejo as suas maravilhas. Os meus estão fartos, me cobrem de amor, seu vigor parece não tem fim, e os dias de suas vidas parecem alongados de mar a mar. Minha saúde não me abandona, e o pão na minha mesa nunca faltou ou tardou a chegar. Não tive pergunta que de ti não tivesse resposta, e nunca tive lágrimas que por ti não foram enxugadas. Nunca faltou nem mesmo para os necessitados que a mim vieram, a sua parte sempre esteve nos meus bolsos, e nunca se desviou das suas mãos. 

E porque a angústia me domina? Porque a sua Presença e suas Maravilhas é que geram a minha angústia? Porque estou em trevas, e sua Luz fere meus olhos. Suas obras são testemunhas contra mim, suas bênçãos me condenam sem direito a quaisquer recursos. Não posso levantar minha voz para clamar, o Senhor não merece meus murmúrios. Minhas lamentações são como blasfêmia. Sua misericórdia expõe minha vergonha, e sua bondade é como espelho que exibe a sujeira da minha face. Quem me dera fosse como Jó, que justo foi incomodado pelo mal, e tinha sua justiça e piedade como testemunhas. Injusto desde os pés ao último fio de cabelo eu sou, e a benignidade e misericórdia de Deus depõe contra mim.  

Minha palavra não vale uma moeda, meus inimigos ridicularizam minha pronunciação. Levei varadas de amigos e parentes, sem poder contestar, pois minhas palavras se tornaram para eles como palavras de crianças. Meus olhos só fitam o chão, e mesmo para esse eu fecho os olhos de tamanha vergonha. Minhas promessas são vazias, minha boca é mentirosa. Como posso falar de ti? Como posso pronunciar o seu Nome? Antes de envergonhar o meu Deus, fecho a minha boca para toda profecia, pois se esta passa pela minha língua ela me extingue, e me consome como papel lançado ao fogo. O seu Nome que sempre foi leve como brisa refrescante, se tornou impetuoso como tempestade, e grande demais para minha boca. Todos os seus títulos se tornaram pesados demais para a minha língua. Não posso dizer o Deus que sirvo, pois me tornaria herege por causa das minhas ações, a mim mesmo me julgaria e me condenaria, e com minhas próprias mãos me lançaria na prisão. Seria mais justo como ateu, e menos ímpio se me declarasse pagão.

Encurralado por amigos e inimigos, recorri a ti em minha defesa, sem destruir a minha boca com seu Nome, sem pesar na minha língua os seus títulos, pois minhas palavras só me serviam de condenação. Pronunciei que somente de ti viria meu livramento, mas tudo que tive fui um período de mais tribulações e angústias. A comida se tornou como hóspede mal vindo nas minhas entranhas, a água se tornou cheia de terra que cortava minha garganta. A sua Presença me acusava, e, no entanto somente o Senhor estava ao meu lado. 

Mas ainda assim a esperança brilha a cada Sol, e me cobre como mãe amorosa a cada anoitecer. Como pode não ter esperança o mendigo que dorme no chão da praça, e vê passar todos os dias seu amigo que agora é Rei? Talvez ele não se sinta digno de ser atendido, mas jamais deixará de lançar seu olhar ao Rei. Como não pode ele ter esperança, de que seu amigo o note, e tenha misericórdia da sua situação? Tomei coragem, e me coloquei como pedinte incômodo, batendo na porta do meu amigo que agora é Rei. Dia e noite eu bato e grito, e ninguém me expulsa da sua porta. Onde estão os guardas, onde estão os soldados? Na sua porta morrerei chamando, entregarei a ti meu último grito, meu último suspiro, à sua porta morrerei como pedinte incômodo. Minhas palavras findaram, coloquei um selo em minha boca. Nada mais tenho a dizer em minha defesa.    
  
E o Senhor me inspirou: minhas palavras são belas e honestas, e não se achou falsa piedade nelas, e palavras assim não passam despercebidas aos ouvidos do Senhor. Não sele a sua boca, não dê fim às suas palavras. A água é maior que o copo que a carrega, seja ele de ouro, seja ele de madeira. O copo não mata a sede, mas a água que ele carrega. O copo sem a água não mata a sede, mas a água não precisa do copo, e pode ser bebida nas mãos, ou diretamente na fonte, pela boca. Não se julga a água pelo copo, e não se julga a Palavra pela boca que a pronuncia. Pois a Palavra do Senhor é livre como a água e o vento, desvia dos obstáculos, evapora, chove novamente, passa da planta ao animal, da carne do animal ao homem, volta ao solo quando o homem deita na morte, é absorvida pelas plantas, e sai novamente ao ar pelas plantas, e chega onde deve chegar. Refresca o justo como brisa, entra leve pelas narinas das crianças, pesa nos soberbos como ar em um pulmão destruído, vem como tempestade e furacão no Dia da Justiça. Tem forma de gota ou a grandeza do mar, é doce para o inocente e salgada para o impiedoso. 

A Palavra do Senhor me aliviou, e minha esperança não me abandonou. Sei que os meus estão guardados Nele, e o escárnio dos meus inimigos me dão força. As acusações dos meus inimigos se tornaram testemunhas a meu favor, minha dor e minha angústia se tornaram meu refrigério. A tristeza agora me fortalece como alimento revigorante. Junto testemunhas nas repreensões dos que me amam, acumulo provas a meu favor na disciplina do Senhor. Pelas minhas feridas sairão todos que me contaminam, a falta de chuva secou a erva que crescia na minha alma. A Luz do Sol destruiu as sombras dos meus desejos, a falta de recursos me impediu de cultivá-los. 

Louvado seja o Senhor por todos os séculos que vieram, e que virão a ser. Glorificado seja seu Nome para todo o Sempre. Bendito o seu Ungido e Rei, que não deixou os soldados e guardas me retirarem da sua Porta, e nem esperou o meu último suspiro para vir em meu socorro. Que nunca ignorou o meu olhar, mas que deixou que todo o meu mal fosse expulso de mim pelo meu clamor e súplicas. Não tenho outra garantia se não a sua Palavra na boca do Senhor Jesus, e a minha fé. Sua sabedoria me fez ficar calado de temor e admiração, e me condenaria a um hospício eterno se eu dissesse que não há Deus. Amém.